Apresentando GG AKA Hernani Carlos Delgado

Quando comecei a pensar em quem poderia ser o 1º MC a ser entrevistado no blog, pensei em vários MC´s. Mas quanto mais que pensava em nomes, mais este nome surgia à minha frente. GG! GG! GG! GG! Porquê GG? Nem eu sei porquê. Não tem a hippye de outros. Não é tão conhecido como os outros. Não lança como os outros. Então porquê ser ele o 1º? Porque não começar com um mais "conhecido para garantir mais views, likes e partilhas"? Acho que nesta entrevista vamos todos descobrir o motivo.
Obrigado pela honra GG! Por aceitares este convite e por seres o 1º MC na nossa crónica de entrevistas.
E vamos a ela porque temos muito para falar.
- Pelo que sei, és dos MC's mais novos do colectivo HHA. Pelo menos, é essa a minha ideia. Qual foi o impacto que teve na tua vida, aqueles loucos anos de 2004 a 2006(?), em que vocês eram simplesmente os RAPPERS mais conhecidos de CV e tinham um dos melhores álbuns já feitos? De positivo e de negativo, o que tiraste desses anos?
Sem dúvida foram anos mágicos, caí de paraquedas no Hip Hop Art... de um dia para outro estava no grupo do EXPAVI foda-se man um orgulho imenso. Na época com 16 anos o Tercer Voz convidou-me para fazer um som e todos ficaram surpreendidos com a minha habilidade com as rimas, o flow... arrisco-me a dizer que fui o MARK DELMAN da minha época. No primeiro dia de actuação ao vivo subi em dois palcos, o primeiro em Ribeira de Calhau e o segundo em Chã de Alecrim num comício eleitoral. Na primeira actuação chorei e na segunda fiz muita gente se emocionar, pois estava no meu bairro e surpreendi todos com uma actuação de la puta madre. Cheguei para ficar não havia dúvida nenhuma, eles não esperavam que o puto tivesse aquele desempenho e nem eu. Ainda hoje sinto ansiedade e medo do palco, mesmo sabendo que sou um capo nessa Merda kkkkkkkkkkkkk!!!!
No outro dia saí sozinho em busca de um palco para actuar, saí de Chã de Alecrim e fui pedir que me deixassem cantar um som num comício na Rua 1 de Monte Sossego. Subi no palco, comecei a cantar e fez-se silêncio até eu terminar, arrasando com aplausos da multidão que de boca aberta e ouvidos em pé tinham ouvido Rap com cabeça tronco e membros. Nunca mais parei. Posso até não lançar, mas sigo e seguirei vivo neste movimento pelos trabalhos feitos.
O Hip Hop trouxe-me os melhores amigos, irmãos de outras mães, eu não poderia nascer num grupo melhor, era um dos grandes um Hip Hop Art Nigga.
Tive sorte porque para além de fazermos o Rap consciente que todos ouviram e testemunharam, nós éramos educadores uns dos outros, amávamos aquilo que fazíamos e queríamos resguardar a nossa reputação.
Os outros elementos do Hip Hop Art, todos eles sem excepção, tiveram um papel importante na minha educação, embora o BOSS PP tenha sido aquele que teve o braço mais forte e me tenha segurado em muitas das minhas desventuras. Pois cedo comecei a fumar ganja, a beber em demasia e a meter-me em confusões sucessivas nos arredores da Praça Nova, nos lugares onde íamos actuar e nas ilhas. O BOSS reprovou estas atitudes e até quis expulsar-me do grupo kkkkkkk!!!!!
Mas o G nunca saiu... eles me amavam e me amam até hoje, como eu a eles.
· Para situar, foram durante estes anos que tiveste os primeiros contactos com o mundo do álcool e das drogas? (tema de conversa mais à frente)
Eu já tinha tido contacto muito antes, comecei a beber e a fumar muito cedo, mas com certeza que quando comecei a cantar nos palcos e a viajar para outras ilhas comecei a abusar mais da ganja e do álcool. Foi num show na ilha do Sal que, com 17 anos, experimentei cocaína pela primeira vez. Drink, drogas e guerras a trilogia da minha vida, arrisco-me a dizer que a música perdia para esse trio. Nunca fui muito de mulheres enquanto os Brothers estavam atrás de minas eu estava atrás de ficar "stone".
- Estavas preparado para isso ou foi um autêntico furacão na vida de miúdo de 15/16 anos? O que mudavas em ti se pudesses voltar atrás?
Eu nunca estaria preparado mano, sou uma pessoa muito ansiosa e com pouco auto-controlo. Mas Deus não dá milho pra quem não tem dentes e então colocou os melhores brothers do mundo à minha volta. Os meus brothers me protegeram como um irmão mais tinhas de ver para crer, dei-lhes muitas dores de cabeça.
Com certeza que se eu pudesse voltar atrás não voltaria a experimentar drogas, fossem elas lícitas ou ilícitas, pois elas dominaram a minha vida, tornei-me escravo delas. Deveria ter dado ouvidos ao BOSS.
- Estiveste uns anos na Bolívia a estudar. Chegaste a terminar o ensino superior?
Não terminei. Fiz todas as minhas cadeiras mas nunca fiz o trabalho final.
Cheguei a pedir equivalência na UNIMINDELO e retomei os estudos no 3º ano de Administração de Empresas mas as drogas nunca me deixaram terminar.
Sou bastante inteligente, nunca tive problemas com os estudos, sempre fui um aluno de boas notas, mas mesmo assim não consegui terminar.
Penso terminar um dia kkkkkkkk!!! Obviamente.
- A minha impressão, do que acompanhava nas tuas redes sociais, é que foram uns anos (na Bolívia) em que andavas quase sempre com altas mocas. Verdade ou nem por isso? Podes-nos contar como foram estes anos?
Altas mocas broda. Eu estava no meu mundo longe de tudo e de todos, como gosto de estar ou gostava sei lá... é que ainda hoje me apetece jogar tudo pro alto e voltar a ser um STREET NIGGA, mas agora tenho filho e uma família a quem devo responsabilidade e reciprocidade, pois sou muito amado graças a Deus.
Na Bolívia além das mocas eu estudei muito, nunca abandonei os meus estudos até ao último ano.
Trabalhei, fiz parte de uma banda e diverti-me muito.
Diferente daquilo que muitos pensam, eu só comecei a usar cocaína passado dois anos na Bolívia, depois de ter vindo de férias para Cabo Verde com 40kg a menos e uma puta fama que não era minha. Todos diziam que eu andava a comer cocaína e eu apenas havia experimentado, tinha fumado um "RECHEADO" uma vez quando fui cantar na ilha do Sal, muito antes da minha ida para Bolívia e só voltei a cheirar anos depois, numa noite antes de ir a uma festa e parei outra vez porque senti medo da ressaca de merda que senti.
Nesse dia cheirei pela primeira vez na casa de banho da minha suite com dois colegas, todos foram para a festa menos eu... fiquei ali cheirando até não ter mais nada.
Quando cheguei à festa tinha a cabeça toda rapada, tinha vestido um fato preto e estava de óculos escuros numa noite de verão. Essa foi a minha primeira vez. Saí da festa com a minha namorada pensando que iria dar-lhe uma boa foda e nem consegui ficar teso. Kkkkkkkkk!!! Depois desse dia passei um bom tempo até voltar a cheirar, mas quando começava nunca conseguia controlar- me.
Foram anos nessa merda... ganja era como ar nunca podia faltar.
- E o teu regresso à terra? Foi pacífico ou tiveste dificuldades de adaptação? Vieste da vida Loka de um jovem estudante e logo tiveste de "tomar conta dos negócios da família". Foi uma decisão tua ou foste "obrigado" a isso?
O meu regresso foi turbulento como toda a minha vida havia sido, cheguei a Cabo Verde e em duas semanas estava nos jornais e no noticiário. Entrei num conflito com a Polícia e fui brutalmente espancado por 4 agentes durante uns 10 minutos. Estava com uma menina com quem andava a namorar e com o Kuarta K quando me meti num problema que não era meu e correu-me de mal a pior. Vi agentes da Polícia a agredirem um rapaz e fiz uma chamada de atenção, prenderam-me por desacato, fracturaram-me o braço esquerdo e partiram-me o queixo. Passei dois dias preso na esquadra onde me foi negada assistência médica até ser apresentado em tribunal.
Um alta regresso à moda do GG, kkkkkkk!!!
Já em Cabo Verde regressei à universidade e as Grandes Mocas pouco a pouco voltaram a dominar a minha vida.
- Para preparar esta entrevista, fui novamente escutar a tua Mixtape "P'ABRIB KABEÇA". Tenho de te dar os parabéns porque este trabalho envelheceu muito bem e ainda faz todo o sentido. Como foi o seu processo de criação? E a quem querias abrir a cabeça? A ti próprio ou aos teus ouvintes?
Obrigada broda! Antes de mais quero dizer-te que com o tempo pude ter a certeza que as minhas mensagens antes de serem para os outros são para mim, são desabafos de momentos bons e outros difíceis nos quais posso encontrar amparo e direcção. P' Abrib Cabeça, como todos os outros trabalhos que eu gravei, foi espontâneo, coisa rápida... eu não sou de passar muito tempo a escrever, quando começo uma letra termino no mesmo dia, para não dizer em máximo em uma hora.
P'Abrib Cabeça foi escrito e gravado em 15 dias. Eu estava de férias em Cabo Verde e surgiu a ideia no meio de uma paródia e assim aconteceu. O Expavi sempre esteve disposto a colaborar connosco em tudo e o DJ Letra fez sempre o mesmo. Foda-se mano, eu sou mesmo abençoado por ter esses pilares do meu lado, e orgulho-me em dizer que mereço tudo o que eles fizeram por mim. Sou um MC De La Puta Madre igualzinho àquele que eles desejaram, para um dia sucedê-los no movimento.
- Qual a tua música preferida deste álbum e que ainda faz sentido ser cantada?
Para ser sincero não me lembro mano, faz tempo que não ouço esse trabalho, acho que nem consigo dizer-te nome de 5 músicas desse trabalho.
- Tens ideia de lançar algum novo projecto para breve? Sei que andaste a falar nisso nas tuas redes mas há muito que não falas sobre isso. Podes-nos dizer se o projecto foi enterrado de vez ou se ainda andas a cozinhá-lo com paciência?
Tenho dois projectos guardados, um com o DJ Letra e outro com o Rossini Master Beats, não cheguei a terminar nenhum mas ficaram bem encaminhados.
Eu ando sempre à procura de encontrar-me e nessa procura acabo por sentir-me inspirado e começo a gravar direccionando as minhas mensagens para as experiências que vivo no momento. Se eu demorar muito tempo nesse processo de criação, como fiz com esses dois projectos, acabo por desistir. Exactamente porque no meio do caminho acabo por encontrar atalhos e ideias novas que me levam a mudar o rumo das minhas desventuras. Para simplificar, sou muito influenciável mano. Kkkkkk!!!!
Mas nesse momento encontro-me a gravar um projecto sobre o qual prefiro não falar. O que eu posso adiantar é que desta vez o Rap tá puro, sem influências de seitas, religiões, livros, doutores e professores, tá Rap Rap. Aqueles que gostam do movimento vão-se maravilhar com tamanha audácia.
- A minha ideia é que hoje os MC's têm mais oportunidades de gravar, de aparecer mas poucos têm a qualidade de mensagem que os mais velhos têm. Podes dar a tua opinião sobre isso? A malta nova apenas vê o glamour que é ser rapper hoje em dia, e pouco se importa com os fundamentos reais do HIP HOP?
Eu gosto de ver esses putos se movimentando mano, eles têm tudo, têm beats, têm flows e boas letras, obviamente de acordo com a realidade que eles vivem ou sonham sei lá, o Rap é exactamente isso mano.
Conheço muitos niggas do old school que nunca fizeram nada no movimento e só mandam bocas, a maioria é assim.
Prefiro ficar do lado dos putos, só não apoio mais o movimento deles e não faço parte activamente por estar sempre ocupado com os meus afazeres.
- Sentes que as pessoas (do movimento) reconhecem toda a tua importância neste movimento (juntamente com os outros elementos do HHA), ou nem por isso? E se for esse o caso, é porque eles não se interessam mesmo pelo passado (Conhecer o passado para reconhecer o presente e preparar o futuro?) ou porque se acham muito importantes para ligarem a "uns velhadas" como vocês?
Aqueles que reconhecem são suficientes mano, aqueles que não conhecem não têm culpa nenhuma, nós deveríamos ter dado continuidade ao nosso trabalho.
Eu particularmente recebo muito feedback. As pessoas ainda me param para perguntar porque paraste, e sei que se passa o mesmo com os outros elementos do Hip Hop Art. Ser um Hip Hop Art Nigga é muito bom mano, eu sinto-me especial por pertencer a essa família e aqueles que não reconhecem hão-de respeitar, porque confesso ter noção da minha potência e importância nesse movimento, afinal sou o PIOR MC DAS ILHAS e isso faz-me único.
- Chã de Alecrim foi um dos maiores viveiros de HHC. Porquê será? Ainda temos malta boa a surgir ou isso já não acontece tanto? Podes indicar-nos algum MC da nova escola que esteja a surgir da "Zona de Vento"?
O Expavi é a razão de tudo isso ter acontecido. É como o BATCHART cantou "xkreve letra e leva Expavi pá corrigi", eu também fiz isso, fomos seleccionados pelo Master, pelo Comandante do Movimento. Imaginas esta cena?
O Expavi dedicou a sua vida para que ao seu redor permanecessem aqueles que faziam, aqueles que queriam fazer e aqueles que gostavam do rap.
Ainda temos bons MC's mano, o Grande Indzais e o Revan vieram morar em Chã de Alecrim e deram continuidade ao trabalho que o Expavi tinha iniciado. Confesso que gostaria de ter sido eu a fazê-lo, mas estava ocupado com os meus afazeres.
- Achas que o HHC já teve os seus anos áureos, como é ferozmente defendido pelo DJ Letra, ou achas que ainda não chegámos lá, nesse topo?
Ainda não chegámos lá mano, os melhores do movimento ainda têm muito para dar mano... ainda irão surgir niggas com mais skills e inteligência lírica, eu sei bem disso, há-de surgir alguém para superar o Mark Delman... o Mister Hight está nesse caminho e depois dele virão outros melhores.
- Quase ninguém vive exclusivamente do HHC. Como vês esta malta nova que faz músicas onde insistem em mostrar "Money", "cars" and "bitches"? Qual é a realidade em que eles vivem mesmo?
Foda-se, esses são cromos mano! Hoje temos muitos a gravarem músicas sem serem MC's. Alguns até gravam mixtapes, mas quem realmente conhece o movimento nota de longe que são músicas gravadas quase à força, sentam no beat quadrado sem aquele à vontade de um verdadeiro Rapper.
Andam quase sempre drogados e só falam merda para impressionar e fazerem parte dum grupo, porque na verdade são pessoas que têm uma auto-estima baixa e necessitam de atenção a toda custo.
- Entre beat e mensagem, qual o grau de cada um na construção de uma música nova? VD rima numa música dele que uma boa mensagem pode salvar um beat mas um bom beat não salva uma má mensagem. Podes explicar a tua escolha?
Eu foco-me na mensagem, escolho sempre o primeiro beat, respeito o trabalho dos produtores mas eu não tenho paciência para andar atrás de um bom beat.
Acredito que a minha mensagem por si só cativa. O meu feeling é diferente mano, eu faço Rap para mim mesmo.
- Entrando numa parte menos agradável da tua vida, a tua adicção às drogas:Como estás hoje? Mais um dia de cada vez?
Estou na luta mano, todos os dias tento ficar afastado das drogas, mas confesso que não é tarefa fácil.
- Uma parte da tua luta passou nas tuas redes sociais. Foste inspirado pelo Dammus ou foram dois processos diferentes?
O Damus ajudou-me muito, mas foi o GA DALOMBA que me tirou do fundo mano, o GA é meu irmão, ele está para mim como os meus manos do Hip Hop Art, foda-se eu amo o GA DALOMBA.
- O que foi mais difícil? Assumir para todos que és um adicto ou assumir para a tua mãe?
Eu já tinha assumido para a minha mãe e antes disso havia assumido para todos. Eu nunca escondi nada, desde a minha adolescência que eu fumava, bebia e arranjava brigas onde quer que eu fosse.
A adicção não surgiu com a cocaína, ela já se tinha manifestado desde bem cedo, só que a cocaína faz com que tudo pareça pior, quando na verdade não há muita diferença entre ganja, álcool ou cocaína.
- Como mãe, imagino que ela continue todos os dias a ajudar a manter-te focado e limpo. Alguma mensagem especial para ela?
A minha mãe é simplesmente incansável mano, ela só me pede para fazer o mesmo pelo meu filho, é o que ela sempre me diz... "Não tens de agradecer, retribui para o teu filho e eu ficarei feliz."
Isso é o melhor que tenho na vida mano, a minha mãe.
- Achas que os programas anti-droga chegam para combater este flagelo ou continuam a falhar? O que achas que deve mudar?
Os programas funcionam. O que precisa mudar é a educação, a forma como cuidamos e educamos os nossos filhos, para que não se tornem pessoas frustradas e sem auto- confiança.
Nós temos de responsabilizar-nos pelo bom e pelo mau das nossas vidas, tomar as rédeas do nosso futuro. Se nos focarmos em programas não haverá solução para nada e nem ninguém. O problema está em cada um. Todos devemos conhecer as nossas sombras, os nossos medos e a nossa escuridão.
- E é fácil encontrar drogas nas ruas de Mindelo? As pessoas olham para ti com o mesmo orgulho que eu olho? Como alguém que caiu com um estrondo mas que se levantou como uma pessoa melhor?
Encontrar drogas em Mindelo é muito fácil, como diz o Gabriel o Pensador é mais fácil do que comprar pão. Os traficantes estão em todo o lado, desde estudantes, taxistas, playboys e nas periferias as ruas foram tomadas pelos traficantes que te abordam na rua para oferecer o produto.
Eu nem sei como as pessoas olham para mim, na verdade isso já não interessa, estou no meu expediente 24 sob 24 horas lutando para sustentar a minha família.
- Tu dizes quase sempre que Hip Hop é Humildade. Achas que isso te deu forças para teres a humildade para procurar ajuda?
Pedi ajuda porque estava no fundo, emocionalmente de rastos por causa do consumo de drogas. O Hip Hop deu-me forças para aceitar o meu problema obviamente, o Hip Hop dotou-me de uma força inacreditável. Sou abençoado, graças a Deus, por não ter ficado calado a morrer aos poucos e ter assumido a minha condição de toxicodependente e pedido ajuda.
- Quais os conselhos que dás acerca deste tema aos jovens de hoje? Aquele conselho que nenhum programa governamental dá e que aches essencial?
O melhor é nunca experimentar. E se anda a consumir tente parar, procure alguém que já tenha passado por experiências do tipo e aconselha-te com ele.
- Hip Hop é uma forma de vida para ti? Se te puder avaliar neste momento, posso dizer que estás mais à procura do Knowledge e não à procura do Bling. Fica à vontade para explicar.
Tudo o que eu faço tem o Hip Hop no meio, a minha educação vem do Hip Hop e se espelha em todas as áreas da minha vida.
Gosto de fazer Rap e faço-o espontaneamente, eu já não me preocupo em andar a tentar bolar um som que tenha muitos views já o fiz agora estou em outra.
As músicas que ando a gravar têm um público bastante limitado mas é o estilo com que eu me identifico e é o que eu continuarei a fazer.
- E achas que quem hoje em dia faz Rap fá-lo mais pelo ego do que como uma forma de enviar uma mensagem e ajudar alguém com algo de positivo?
Acho que todos fazem com intenção de ajudar ou pelo menos agradar, embora muitos se deixem levar pela ostentação e pela thug live e divaguem, viajem relatando histórias imaginárias que nada têm a ver com o seu dia-a- dia.
Acho que os jovens andam a escrever sobre aquilo que os seus ídolos escrevem, a maioria hoje em dia aqui em SV é cópia de algum ou alguns MC's estrangeiros, digo SV porque hoje em dia o Rap feito em Santiago está de longe melhor que o nosso.
- Se pudesses mudar alguma coisa nestes teus quase 20 anos de Hip Hop, o que seria? E porquê?
Mano não mudaria nada, acho que estou num bom caminho.Continuo a fazer aquilo que gosto e com maestria.
- E se hoje o Primeiro Ministro ou o Presidente da CMSV te chamassem para uma reunião, o que dirias aos dois? O que lhes pedirias para ajudarem os mais necessitados das ilhas?
Melhores condições para os micro e pequenos empresários, ajudas em financiamentos e elaboração de projectos para que consigam aceder a créditos com taxas de juros baixas. Tudo isto existe teoricamente, mas na prática não se vê.
O estatuto para pequenas e médias empresas é uma "força" ou um roubo para os empreendedores?
- O meu maior interesse em entrevistar-te é porque te vejo como o Lucky Luke do HHC, ou seja, um "Pistoleiro Solitário". Alguém que está no movimento por direito próprio mas que não é do movimento. Que segue um caminho próprio e que não é influenciado por ninguém. Isso porquê? Estás desiludido com o movimento? Estou certo ou errado? O que podes dizer-me acerca disso?
Eu amo o movimento mas eu gosto de assistir de longe. Confesso que a maior parte das músicas que escuto do HHC hoje em dia não me interessa mas mesmo assim apoio.
O meu estilo é criticar, e se crítico começo pelos MC's, é só o meu estilo não tenho nada contra nenhum. Cada um tem o seu estilo e só temos de respeitar.
- Todos querem ser o Rei do Rap Game criolo mas tu queres ser o "Pior MC das Ilhas". Porquê? Sentes que é necessário que as pessoas sejam mais humildes e que queiram ser a melhor versão deles próprios ou é outro motivo? Podes explicar-me essa tua ideia?
Eu não me denominei O PIOR MC DAS ILHAS para demonstrar nada a ninguém, mas sim para diferenciar-me de mim mesmo, estava na mesma onda de todos querendo dominar as ruas ser famoso, então tive de reencontrar-me e ir na direcção contrária para não seguir a manada.
Na verdade trocando ideias com um amigo ele disse-me que se todos querem ser o melhor e eu considerando-me diferente deles, deveria proclamar-me o pior. Nesses dias lia muito a Bíblia e O PIOR MC DAS ILHAS segue os ensinamentos cristãos, não que eu seja religioso, nada disso, mas admito respeitar e admirar muito o cristianismo, afinal os últimos serão os primeiros.
- Neste momento tens alguém que te inspire ou já não corres atrás disso, preferindo inspirares-te a ti próprio?
Acertaste na mosca, não sigo ninguém, gosto de ouvir o Eterno CHORÃO dos CHARLIES BROWN JUNIOR e no HHC adoro ouvir o MARK DELMAN... eles me inspiram.
- E na parte final da nossa entrevista, diz-me uma coisa: o que é o HIP HOP para ti?
Mano essa pergunta pra mim é a mais difícil de responder, quem me conhece sabe disso eu não entro nessa onda de dizer o que é o Hip Hop, eu apenas gosto do movimento e faço parte dele por direito.
- Como sentes este movimento? E qual a tua relação com o actual movimento HHC?
Nem sequer sou adepto deste movimento, só faço a minha parte. Eu adoro os Rapazes da Batalha de KO e para mim poder ajudá-los seria bastante gratificante.
Hoje em dia apenas me relaciono com o HHC através dos rapazes da BATALHA D KO, gostaria de poder patrociná-los e pouco a pouco chegaremos lá.
- Manda aí uma mensagem aos que tiveram paciência para nos acompanhar até aqui e ao HHC e a todos os seus intervenientes. E já agora, deixa uma palavra ao blog.
Aos que gostam do meu Rap o melhor ainda está para vir, vou brindar-vos com rimas fortes à moda do GG. Quanto ao blog, se quiseres tens aqui um parceiro mano, e parabéns pela iniciativa, é como eu te disse se ninguém mais escutar a minha música eu o faria só para ti.
- Quero terminar agradecendo a tua paciência e gentileza em responder a tudo, e deixo aqui uma última questão: Alguma previsão para o teu próximo álbum?
Tá no forno com participações de MC's totalmente opostos à minha ideologia, eu gosto muito do KRE SK e tenho o prazer de trazê-lo em alguns temas comigo.
Porque as nossas mensagens não têm nada ver um com o outro mas a essência é a mesma, ele é verdadeiro naquilo que faz.