Entrevista com Renato Monteiro e Danny Monteiro dos SAB

03-07-2021

Hoje vamos trazer ao Blog dois jovens e multifacetados artistas, Renato Monteiro e Carlos Daniel Monteiro.

Renato[I1] , com mais de 10 anos de andança no panorama musical em Portugal, iniciou a sua carreira ainda mais jovem em São Vicente e depois de muitas andanças, concertos, parcerias, durante a pandemia juntou-se ao seu irmão, o também talentoso Danny Monteiro e resolveram lançar o duo SAB, uma palavra crioula que traz um sentimento bem cabo-verdiano do estar e saber estar das nossas gentes da ilhas.

Claro que alguns dos nossos seguidores mais "tradicionais" do rap, vão estranhar a presença destes artistas no blog, mas este blog é pessoal e isso também permite-me trazer à luz os mais variados temas e artistas.

  • Antes de mais, podem apresentar-se aos nossos leitores? Quem são e de onde vieram o Renato Monteiro e o Carlos Daniel Monteiro?

Carlos Daniel Oliveira Monteiro e Renato Miguel Oliveira Monteiro, filhos de Carlos Alberto Monteiro e Arminda Oliveira Monteiro, Danny nascido a 29 de Fevereiro de 1984 em Almada, Portugal e o Renato Nascido a 1 de dezembro de 1987 em Mindelo, São Vicente.


  • Antes de serem Renato Mont e Danny Mont, eram apenas filhos de Carlos Monteiro, também conhecido por Carlos Monteiro de Shell ou Calu d'Basila, ou seja, mesmo que quisessem não tinham como fugir da música. Como é ter a música sempre presente na vossa vida (apesar de não profissional), moldou a vossa vida hoje?

Filhos de Calú d'Basila e Arminda de Bia d'Frank, e sim não tinha como fugir desse laço musical e familiar, tanto o pai como mãe têm o dom, pai cantor, guitarrista e compositor, mãe cantora com uma voz poderosa e maravilhosa.

E sendo que desde pequenos tivemos sempre a ouvir os nossos pais a cantar e a tocar, tivemos também contacto com outros músicos que eram amigos da família, como Tito Paris, Dudu Araújo, Dona Tututa... e tudo isso fez-nos ganhar o gosto pela música.

(PS: E eu que apenas conhecia o pai deles e não sabia que tambem a mãe é uma cantora de mão cheia?)


  • Os vossos pais, algum dia vos disseram a típica frase: "Parem com isso e arranjem um trabalho como deve ser que a música não coloca comida na mesa"?

Não dessa forma porque foi deles que herdámos o gosto pela música.Hehe!! Mas sempre a chamar-nos à realidade de que a música é um caminho muito difícil em Cabo Verde, e de certa forma até tinham razão. Mas como tudo na vida, se achas que o teu caminho é aquele, vai em frente com dedicação e foco sem deixar nada te desviar desse foco e conseguirás alcançar os teus objectivos.


  • E como foi essa vossa passagem de músicos "amadores" para músicos profissionais? Foi uma evolução e um caminho natural ou foi mais: "Epa! Vamos ver onde isso vai nos levar"?

Bom achamos que foi mais por necessidade de aprender e expandir os nossos horizontes, porque ao começar a estudar, acabamos por tocar com colegas de escola e daí já foi mais natural, conhecemos alguns artistas e uma coisa levou a outra, palcos de estúdio e assim por diante.


  • Contem-me um pouco da vossa vida musical em Cabo Verde. Como começaram, com quem começaram a fazer os primeiros acordes mais a sério, e já agora qual foi o estilo? Porque passeando pelo youtube, encontrei-vos em tantos estilos que nem eu vos consigo qualificar.

Resumindo,começámos na ilha do sal com o grupo NaCL, depois por motivos familiares mudámos para a ilha de Santiago, onde tivemos a oportunidade de participar na compilação verão 2003 e verão 2004. Na volta para São Vicente, juntamente com Ivan Gomes, fundámos a banda Fusion, cujo o nome já diz tudo. Hehe! Fundíamos vários estilos com a música de Cabo Verde .

Já em Portugal trabalhámos com artistas de Hip Hop, Jazz , Afrobeat, Soul, Reggae, música de Cabo Verde, etc.

Em termos de estilos, eu acho que nós "SAB" enquanto artistas não nos devemos fechar dentro de uma caixa. O universo da música é muito grande. Hehe!!




  • E a vossa vinda para Portugal... Vieram para estudar como tantos outros ou vieram já com a ideia da profissionalização?

Nós saímos de Cabo Verde para estudar, mas sim, já com ideia de fazer carreira musical.


  • Façam-nos uma pequena viagem, e se puderem, contem em poucas palavras esta vossa corrida de 10 anos a tocar profissionalmente. Os artistas mais conhecidos com quem já tocaram, os locais mais emblemáticos, o espectáculo que mais vos marcou e outras curiosidades/histórias que resumem a vossa carreira.

Foi tomada a decisão de vir a Portugal estudar música em 2009.

Já em Portugal tocámos com artistas e bandas tais como Jimmy P, Dino Santiago, Master Jake, Cremilda Medina e Mirri Lobo. Tocámos em palcos como Casa da Música, MEO Sudoeste, Sumol Summer Fest, Anfiteatro de Loulé, Lisboa ao Vivo e entre outros, mas isso como músicos freelancers. Também tentámos trazer de volta o NaCL, que já tinha tido seu tempo e preferimos deixar de parte em finais 2017, e começámos a direcionar-nos para o projecto SAB e aqui estamos hoje.


  • Renato, muitos apenas te vêem ou conhecem pelo lado "artista"/músico mas poucos conhecem o teu lado produtor. Inclusive sei que produzes outros estilos que não são bem o estilo que tocas. Podes contar-nos esta outra vertente?

Sim, eu há mais ou menos 5 anos atrás, por necessidade, comecei a interessar-me pela parte de beatmaking e com isso comecei também a trabalhar com artistas. E graças a isso o projecto SAB ganhou outra dinâmica, porque assim na fase inicial não foi preciso trabalhar com outros produtores, pois era eu a fazer produções musicais e o meu irmão na parte de imagem do projecto.


  • Já agora, qual é o vosso conhecimento do Rap Criolo? Acham que já podemos parar de ter "vergonha" e dizer que faz parte do panorama musical cabo-verdiano ou ainda vamos continuar a considerar um "modismo"?

Nós somos da geração 80 então lembramo-nos dos grupos: Ice company, Black Side, Boss AC, Mogreen, Hip Hop Art, Djedje, Mitto Kascas, entre outros.

Hoje em dia está muito presente na nossa cultura, pois já temos artistas com uma sonoridade crioula e própria e produtores a fundir o Hip Hop com música cabo verdiana.

Sendo assim, vergonha porquê, se já faz parte da nossa cultura e sabendo que hoje em dia é uma das músicas mais influentes no panorama musical mundial.


  • Neste momento, acredito que os artistas mais profícuos de Cabo Verde são mesmo os que estão ligados ao rap. Durante esta pandemia, exceptuando talvez os artistas cabo-verdianos que estão no estrangeiro, mais ninguém produziu tanta música como eles. Isso quer mesmo dizer que já está na hora de lhes darmos mais valor e reconhecimento. O que pensam disso e qual as ilações que podemos tirar disso?

Neste momento o Hip Hop Kriol está em altas, até aqui em Portugal já temos artistas de Hip Hop Kriol, tanto nascidos cá como imigrantes, que já começam a ter muito reconhecimento como, Loreta, Vado Mas Ki As, Appolo G, sem contar que o Boss AC,que já faz música há muitos anos.

Eu acho que está a crescer e é continuar o trabalho que o reconhecimento vem atrás.



E vamos agora entrar na vossa vida do último ano e meio e que nos trouxe aqui.

  • Com esta pandemia, apenas consigo imaginar as dificuldades de quem faz da arte o seu modo de vida, e imagino também que vocês tenham sido muito afectados (salas de espectáculos fechadas, bares fechados, discotecas fechadas, festas proibidas, etc.,etc.). Como que está a ser viver durante esta pandemia e o que têm feito para minimizar as perdas de rendimento?

É claro que é difícil porque sem shows perde-se ali uma fonte de rendimento importante,mas tens de te adaptar. Para nós foi bom porque tirámos o tempo para compor e produzir, acho que sempre podes tirar o bom do mau, porque difícil ficou para todos mas penso que já vai começar a melhorar, e dias melhores virão.



  • Apesar de tudo, mesmo com todo este caos, temos de ver a parte positiva. Vocês, depois de tantos anos "separados", entre projectos pessoais e com outras pessoas, resolveram juntar-se e fazer algo. Como foi isso? Era algo que tinham na gaveta à espera do dia certo ou foi entre uma "tocatina" e outra que viram que podia sair um projecto como este SAB?

Separados mas sempre juntos, poderíamos não ter um projecto em conjunto mas estivemos sempre a trabalhar juntos em gravações e concertos em barzinhos. Estivemos também a organizar noites Cabo Verdianas num bar que se chama Rua no Porto (na Invicta).

Em relação ao projecto SAB, não era algo concreto e nem nome tinha, era algo que sempre esteve na nossa mente, com o confinamento juntámos músicas minhas e músicas do Renato e decidimos criar o projecto, apesar do nome surgir apenas uns dias antes de lançarmos o primeiro single.


  • E já agora, porquê este nome? A mim só me faz lembrar num "passa sab" e julgo que nome venha daí.

- Bom, o nome vem também do "passa sab", mas a ideia era morabeza de nós kriol, dos ditados: Soncent é sab é sab pá ca**😁; Depois de SAB morre cá nada; Sab Ka ta due. Enfim tudo o que nos lembra a nossa ilha. E eu (Renato) quando penso na palavra SAB penso logo em São Vicente. Hehe! É inevitável.


  • Vocês definiram o vosso estilo no lançamento do 1º single como uma junção de várias sonoridades, entre elas a própria música cabo-verdiana, Afrobeat, R&B, Soul, etc. Acham que vai ser assim mesmo ou vai variar consoante a vossa inspiração?

Não definimos, são as influências que nos vêm moldando ao longo do tempo como músicos, sendo que já passamos por vários projectos com géneros de música diferentes.

Claro que vai depender sempre da inspiração, mas acho que estas influências vão estar sempre presentes.


  • E qual é a ideia do projecto? É ir lançando singles e depois um CD ou vão decidir conforme forem sentindo a aceitação do público? E já agora, pensam ter outros artistas a partilhar o microfone sem ser coro?

Sim, a ideia é lançar alguns singles para dar a conhecer o projecto e depois preparar algo mais elaborado (Álbum, EP).
Para nós a música vive de partilha, por isso de certeza que vamos partilhar músicas com outros artistas


  • Com a retoma das actividades, estão a pensar fazer alguma apresentação ao vivo do projecto? Ou ainda pensam lançar mais alguns singles até sentirem que faz sentido? (se sim, fico à espera do convite para vos ir ver! Eheheheheheh!!)

Retoma de uke ainda muff te cavera pa gang speed (hahahaha!).

Ainda estamos a alinhar algumas coisas, temos muito trabalho ainda para fazer até começar a pensar em shows, mas estamos sempre preparados para shows, porque graças a Deus vontade é o que não falta. (No te mandob el hom).


  • Como tem sido a aceitação do vosso projecto? Acredito que tenham muito feedback positivo, seja da diáspora ou de Cabo Verde.

Retoma de uke ainda muff te cavera pa gang speed (hahahaha!).

Ainda estamos a alinhar algumas coisas, temos muito trabalho ainda para fazer até começar a pensar em shows, mas estamos sempre preparados para shows, porque graças a deus vontade é o que não falta. (No te mandob el hom).


  • E para quando o próximo single? Porque aqui no blog a cada dia ficamos com mais "sede" de vos ouvir.

Em princípio vai ser de 3 em 3 meses que vamos ter um single novo, mas pode sempre haver alguns contratempos. Por acaso neste momento estamos a ter um, graças a deus não é nada de muito grave e retomaremos em breve.


  • A minha primeira pergunta foi para apresentarem o Renato Monteiro e o Carlos Daniel Monteiro. E a ultima é: Quem são Renato Mont e Danny Mont e onde querem chegar, artisticamente falando?

Renato Mont é um rapaz sempre com a guitarra na mão à procura de sonoridades distintas.

Danny Mont é aquele rapazinho que aprendeu a cantar escondido e que hoje em dia já tem uma entidade musical própria.

E queremos levar a nossa cultura para o mundo lá fora (e primer objectivo é Baía das Gatas log pa mata sodad) kkkkkkk!


  • Deixem umas palavras para o nosso blog e para os seguidores.

Gente boa, sigam e partilhem este projecto de Fralda pá Mund que tem contribuído muito para a nossa cultura. Obrigado ao Telmo por nos dar a oportunidade de participar no projecto, e já sabem sigam as nossas redes sociais e subscrevam ao nosso canal de YouTube S.A.B.238, também Spotify e Apple Music, porque este ano temos muitas novidades.

Muito obrigado pelo tempo que nos dispensaram e "Tamos Juntos".


ADD: Deixo-vos aqui com o 2º single dos S.A.B , um duo que promete trazer muita musica de qualidade para todos.

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