Revan - futur passod na prezent -PARTE 2

Continuando a minha viagem:
Chegamos ao ponto de ouvir a "Katarse" do Revan. Mas porque purificar? Porque esta necessidade? Aqui temos um artista genuinamente falando das suas próprias dificuldades em conseguir estar sempre na crista da onda. Temos um artista reconhecendo as suas próprias fraquezas e as duvidas que ele tem acerca da sua qualidade enquanto artista. Sabendo que a arte que faz não é o que lha garante o ganha-pão, assume a sua arte como parte da sua vida. Quem sente igual? Só um artista? Que nada. Eu não sou artista mas sinto que sem a arte , a minha vida é menos valiosa que ela é. Mas continuamos nos purificando a cada linha e a cada rima, sem medo de sermos felizes ou infelizes já que viver é isso mesmo.. Andar na parte de cima ou na parte de baixo da onda.
E já que estamos a falar de ganha-pão, porque não meter a culpa em quem a tem? "Kulpod ê Govern" ou será que não? Quem estava a espera de mais um som "fácil" onde temos mais uma vez um MC culpando o tal de "sistema", desta vez temos um MC responsabilizando aquele que nem sempre assume a culpa. O próprio cidadão. Aquele que quer ganhar sem trabalhar. Que quer ter sem ganhar. Que quer viver na mordomia mas sem trabalhar. Das músicas mais brilhantes deste álbum já que o refrão é completamente contrário ao que diz a letra e nos faz ficar quase confusos. Mas de qualquer forma, posso sempre dizer que "Kulpod ê Govern" e ficamos assim todos bem.
A esta hora do campeonato (da minha escuta), tenho a certeza que coloquei um "Kalot". Como assim paguei tão pouco por este cd? Só consigo explicar que enganei o MC e trouxe o álbum por um valor inferior ao que ele vale. Mas espera ai? Posso colocar Kalot sem chamar o Seiva e o N.I.Abensuod? Em São Vicente, acho que o posso fazer já que é a terra do "tmá fiado" e pagar no fim do mês, mês esse que nunca chega porque nunca ninguém diz quando vai mesmo ser. Isso acontece apenas em SV ou nas outras ilhas também temos pessoas que vivem desse expediente de tomar para pagar depois sendo que esse depois nunca chega? Mais uma situação sui genesis que acontece nas nossas ilhas e que nos diverte ao ouvir (a não ser quando somos nós que levamos esse mesmo calote).
Hey. Queres saber o que penso deste Hey? Passa no blog porque este som já tem uma resenha particular e a única coisa que posso garantir é que continua actual já que continuamos a espera da migalha dos políticos daquilo que é nosso por direito.
Já estou cansado Revan. "Nton Bai" . Assim? Não é para chegar ao fim do álbum? Como assim, mandas-me embora se ainda não terminaste. Vou ou fico? Fico ou vou? Ok. Vou ficar na doce melodia que tu e o Nill nos apresentam e prometo que não vou perturbar. Ser ou não ser? Ter ou não ter? Como equilibrar esse nosso ego que nos faz querer ter sem deixar de ser. Ser sem deixar de ter? Temos de acreditar em nós e na nossa luta e na nossa caminhada todos os dias.... Desde que acreditemos sempre que podemos mudar de ideias e tentarmos ser melhores a cada dia.
Como viajar pela música cabo-verdiana sem conhecer nenhum "Nho Manel"? Tens sempre de conhecer um "Nho Manel". Aquele que tem mais histórias que anos de vida. Bom dançarino, galanteador e que rodeava a ilha atrás de um (ou mais) rabo de saia. Aquele homem tipicamente cabo-verdiano que existe em todos os cantos de Cabo Verde, em cada cutelo, ribeira ou txada. Mas e quantas destas historias que tiveram um final realmente feliz? Quantos que tiveram um fim de vida digno?" Deposh de sab morre ca nada " mas nem tanto a terra nem tanto a mar. Ser homem e criolo traz um monte de "ideias" que a cada dia mostra que precisamos repensar essa dita masculinidade criola porque no fim ela não é sinonimo de final feliz.
E de repente, Revan já quer deixar a sua marca da mesma forma que o B.Leza deixou na morna? Onde foi parar aquele rapaz que em catarse duvidava das suas próprias capacidades? Assim estas a ser um gajo "stronh", "Normalmente stronh". Mas depois do tanto que trouxeste, vou- te dar o beneficio da duvida, não achando estranho essa tua ideia maluca de querer fazer pelo rap o que o B.Leza fez pelo rap, já que sonhar é para todos mas atingir os sonhos são apenas para os loucos que ousam transformar os sonhos em realidade.
E como assim, "Kanela Rij"? Passamos o álbum todo a ouvir o Revan a referir as nossas incapacidades e de repente ele mete-se a enaltecer as nossas maiores qualidades que são a resiliência em fazer das nossas fraquezas a nossa maior força? Pois, eu também acredito Revan Acredito nesse povo cheio de incoerências, cheio de fraquezas mas que continua demonstrando que no momento das dificuldades, queremos estar junto dos nossos. Porque se existe um povo que não desiste e que ri-se na cara do diabo, esse povo é o cabo-verdiano, um povo de Kanela Rij e que pode até dobrar mas nunca quebra, porque ele sabe que o caminho é para a frente.
Refilom. E no último som do álbum, aparece a minha frase preferida: "Enquant nô tiver partido, nunca no ta bem ser inter".
Fechando o álbum em chave de ouro, temos o meu som preferido. Não sei se apaixonei pela letra, pela batida, pela melodia, pela quantidade de indiretas e de recados ou se a junção de tudo isso leva-me a colocar este som no TOP e na minha preferida. Tinha uma outra coisa, uma 2ª questão para dizer mas entretanto esqueci e por isso fico por aqui ....Esqueci mesmo. Volto outro dia. Ou não.
One love e obrigado por teres acompanhado esta minha viagem pessoal